Programático, que tristeza.

Al Lucca
3 min readMar 8

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Esse post foi originalmente publicado no The Design Edition em Fev de 2023, minha newsletter onde falo sobre design e afins.

Prometo que não vou falar de ChartGPT, ou Bard, ou Bing.

Estou escrevendo um capítulo para um livro que deve sair em 2024 sobre Design digital para a indústria de Notícias, a experiência que tive na Axios e agora na Semafor parecem ser relevantes para o editor, e eu agradeço pela oportunidade. Em uma das seções eu falo sobre as diferenças entre a imprensa no papel, jornais e revistas, com aquela digital. Fica bem claro como o “canvas” determina o resultado, explico melhor.

No design editorial impresso, tudo é livre, tamanho de fontes, alinhamento, cores, imagens, efeitos, sobreposições, o trabalho de David Carson é provavelmente o melhor exemplo de como estressar o design de uma página ao máximo, chegando ao ponto de deixar a leitura em segundo lugar. E isso pode se repetir em cada pagina, em cada publicação… A natureza do formato já define muito bem a experiência de leitura, o leitor vê o início e o fim, não existem jornadas, ela é uma só.

Pagina feita por David Carson

No digital, ainda podemos ser criativos e ter experiências como a imagem acima, mas não quando falamos de consumo de notícias online, o canvas muda, fica rígido, deve obedecer níveis de hierarquia no código, são boxes sobre boxes, não existe mais a definição de espaço, tudo é aberto, pra cima, pra baixo, pros lados (links), limites como, standards de navegação, templates, formatos responsivos, tempo de carregamento, isso pra não falar do “shit-show” que é fazer design de newsletters com a tecnologia arcaica dos clientes de email.

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Mas tem um ponto que vem me deixando triste e que me fez abrir uma discussão com o nosso time de receita, os banners de publicidade. Pra entender melhor, hoje dividimos essas ads em dois tipos, as programáticas e as brand ads. A publicidade programática está matando a criatividade das agências, tudo gira em torno dessa praga de métrica, algoritmos cuspindo banners a cada minuto com modificações que chegam instantaneamente por dados de clique.

Olhem essas comparações:

Na esquerda a bolsa é um detalhe de uma história. Na direita?

A marca é Nikon, mas vc não vê UMA foto tirada, e nenhuma camera.

Deixando de lado o texto, que direção de arte sóbria. Na direita mais um SUV

Na direita budget para a foto e edição de foto que deve ter levado várias horas. Na esquerda, foto feito com o iPhone do gerente de Marketing na laje da casa dele 🫠.

Viram alguma semelhança com a realidade do design de produtos digitais hoje? Pois é.

MAS… pode ser que uma nova era esteja se formando, vemos marcas como a Burberry voltando ao seu branding clássico, o pessoal do browser ARC vem postando alguns vídeos do processo de design da versão mobile, que parecem ir em uma direção bem diferente das mesmices que vemos por aí.

Por hoje é tudo, obrigado por me acompanhar até aqui e até a próxima!

Al Lucca

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Al Lucca

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