Esse post foi originalmente publicado no The Design Edition em Fev de 2023, minha newsletter onde falo sobre design e afins.
A criação de conteúdo, especialmente para nichos como o nosso, é bem difícil, tanto para achar temas, e depois com o gerenciamento de tempo, produção, divulgação. Escrevi brevemente sobre em Novembro de 2021
Hoje sinto a obrigação de falar novamente sobre isso, mas com um pouco mais de atenção, pois estamos afundados em um mar de informação que por falta de filtro, ao invés de ajudar, cria um ambiente confuso e danoso principalmente para os mais jovens mas que afeta todos nós com certeza.
O conceito do Gatekeeping
Antes das mídias sociais, consumíamos conteúdo através de jornais, revistas, livros, etc… Esses conteúdos iriam formar pessoas, criar agendas, programas, ou simplesmente nos informar. A sociedade aceitava o fato de que alguém, com mais experiência que você, tivesse o privilégio de escrever um artigo na revista X ou Y, porque a mesma revista fez o dever de casa de conferir as credenciais do autor, ou seja, a revista, nesse exemplo é o meu gatekeeper, ela me assegura que o conteúdo que estou lendo é de qualidade, ou uma escola (séria) que garante que o curso que estou fazendo vai me trazer resultados.
O gráfico abaixo ilustra o conceito, nesse caso para notícias, mas o processo pode ser replicado em várias indústrias:
N — Notícias em geral
A — Audiência
N1 e N4 — Notícias descartadas pela curadoria (círculo no meio)
N2 e N3 — Notícias que passaram pelo filtro e chegaram no leitor
Esse conceito aparece na história no papel dos “pensadores”, a idéia de quem estuda um assunto em modo profundo, discute com outros expertos e através da política transforma isso em leis que em teoria vão beneficiar a todos.
Alguns anos se passam e as mídias sociais aparecem nas nossas vidas e todo esse sistema de filtro passa de alguns poucos para milhares de “expertos”, a partir de agora todo mundo pode comentar, opinar, criticar, escrever e re-escrever artigos, livros, sem pedir permissão para ninguém. Ao mesmo tempo que isso revolucionou como nos informamos e aprendemos, também trouxe um mar de besteiras onde qualquer um pode virar celebridade se tiver a coragem de colocar a cara na frente de uma camera e falar, ou como eu disse antes, é gente cagando regra pra todos os lados — 💩
- Falsos médicos com milhões de seguidores
- Gurus financeiros com fórmulas mágicas, mas que nunca aplicaram porque são ricos de berço
- Seja um líder, ensinado por alguém que nunca comandou um time na vida
Esse problema transborda para o mundo físico! Conheço o caso de um “influencer” que vende carros clássicos restaurados por ele, mas os carros começam a desmanchar após alguns meses de uso. No passado, sem o alcance da internet, essa pessoa nunca conseguiria ter um negócio porque o alcance do produto dele seria local, e a falta de qualidade tiraria ele do mercado após poucas vendas, mas como ele consegue chegar em qualquer canto do mundo online, vai demorar muito tempo até que ele não consiga mais tocar o “business” dele pra frente. Por outro lado, eu hoje posso achar um carro clássico do jeito que eu quero em qualquer lugar do mundo, graças a internet, é o tal do conundrum (adoro essa palavra) é como saudade que não dá pra traduzir em outras línguas, conundrum seria “charada, enigma”, ou seja, é ruim mas é bom 😬.
A caixa de pandora foi aberta, não dá pra voltar pra trás
Eu não acredito que a solução seja voltar para um mundo de gatekeepers, mas precisamos ser mais cuidadosos, por exemplo:
- Começar pela separação de conteúdo, que eu chamo de “conversa de rádio”, daquele conteúdo que eu procuro aprender algo porque as informações estão vindo de expertos da área.
- Cursos de ferramentas são geralmente inúteis se vc tem tempo à disposição, mas se precisar aprender algo em 2 dias, aí sim, nada que o curso do talentoso Felipe Santana não resolva.
- Análise bem o background de quem dá cursos de liderança, estratégia, essas palavras bonitas que adoram vender por aí. O autor tem experiência de entrega real de produtos com qualidade? Qualidade aqui não quer dizer sucesso, o produto pode ter sido um falimento, mas o que vale é a jornada, a experiência real. Times grandes, pequenos? Coloca (ou colocou) a mão na massa ou somente post-it nas paredes?
E pra finalizar, vai saber se esse post passaria pelo gatekeeper de alguma publicação especializada 😬, viva a internet!
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Até a próxima!
Al Lucca